COP Cerrados: Consórcio Brasil Central reafirma compromisso global com a conservação do 2º maior bioma do país

O Consórcio Brasil Central realizou hoje (9), no Auditório do Memorial JK, em Brasília, a COP Cerrados, um marco histórico para o reconhecimento internacional do bioma que é considerado o “berço das águas” do Brasil. O evento, que antecede a COP30 de Belém, reuniu autoridades de alto escalão, especialistas renomados e representantes da sociedade civil para debater estratégias de preservação e desenvolvimento sustentável do segundo maior bioma do país.

A importância estratégica do Cerrado para o mundo

Com mais de 200 milhões de hectares  (equivalente a 23,3% do território nacional), o Cerrado se estabelece como a savana mais biodiversa do planeta, abrigando mais de 330 mil espécies, o que representa 5% de toda a biodiversidade global. Muito além de seus números impressionantes, o bioma desempenha um papel ecológico fundamental que transcende as fronteiras nacionais, funcionando como uma verdadeira “caixa d’água” continental ao ser nascente de oito das doze principais bacias hidrográficas brasileiras.

O Cerrado é responsável por 14% da água que fica na superfície do país e acumula 16% do carbono nacional, consolidando-se como elemento vital para a segurança hídrica, energética e climática não apenas do Brasil, mas de toda a América do Sul. Seus ecossistemas alimentam os biomas cruciais do país como a Amazônia, o Pantanal e a Caatinga, evidenciando que a proteção do Cerrado representa uma estratégia de segurança climática de escala continental e global.

O protagonismo econômico e a conciliação com a sustentabilidade

Graças aos avanços científicos e tecnológicos, o Cerrado consolidou-se como o centro do agronegócio brasileiro, sendo responsável por mais de 60% da produção agrícola nacional (incluindo 60% da soja, 65% do milho e 44% do gado). Esta produção representa 22% da soja e 23% da cana-de-açúcar produzidas mundialmente, elevando o PIB do Brasil Central a uma média anual de 5% nos últimos anos, superior à média nacional.

O Dr. Sebastião Pedro da Silva Neto, Chefe-Geral da Embrapa Cerrados, destacou durante sua participação no evento: “Nós achamos que temos tecnologia para produzir e conservar sem a dicotomia criada, que onde tem produção não pode ter conservação. As duas coisas podem conviver harmonicamente e nós, com o modelo de agricultura tropical regenerativa, estamos provando que é melhor conviver produção e conservação porque podemos ter mais sustentabilidade, tanto no eixo econômico, no ambiental, como no social também”.

Conforme destacou a chefe de gabinete do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Mariliene Nascimento, durante sua participação no evento: “O Cerrado é o coração do Brasil. Garantir a sua preservação e o uso sustentável de seus recursos significa promover o equilíbrio hídrico, alimentar e energético que sustenta o nosso desenvolvimento”.

Carta do Cerrado: um manifesto histórico para a COP30

Um dos momentos culminantes da conferência foi a assinatura simbólica da Carta do Cerrado pelos representantes das sete unidades federativas que integram o Consórcio Brasil Central: Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. O documento, dirigido ao presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, representa um posicionamento conjunto dos entes que compreendem 28% do território nacional sobre a inclusão do bioma Cerrado na agenda climática internacional.

A carta apresenta demandas concretas para a comunidade internacional, incluindo a criação do Fundo Cerrado no Brasil, a ampliação do financiamento climático disponível para conservação do bioma, e o desenvolvimento de mercados de carbono e créditos de biodiversidade específicos para o Cerrado. O documento também propõe a criação de um Grupo de Trabalho dedicado aos desafios e soluções de biomas como o Cerrado, com participação ativa dos governos subnacionais nas discussões internacionais.

A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão enfatizou a relevância do evento para as próximas discussões climáticas globais: “E a importância da preservação, a importância do desenvolvimento desses estados, porque muitos deles têm a sua economia fundada e focada no agro, a importância do desenvolvimento de tecnologia para que a gente possa ter o desenvolvimento com foco também na sustentabilidade. E eu tenho certeza que os representantes aqui de todos os estados que aqui estão representando os seus governadores, vão trazer uma grande contribuição para esse documento que vai chegar nas mãos das autoridades, que vão formular o que norteia a sustentabilidade e o meio ambiente para os próximos anos no país e principalmente no mundo”.

Participação de alto nível e expertise técnica

A conferência contou com a presença de autoridades de destaque, demonstrando o comprometimento institucional com a causa. O primeiro painel técnico foi moderado por José Eduardo Pereira Filho, Secretário Executivo do Consórcio Brasil Central, e reuniu os secretários de meio ambiente dos estados participantes: Andrea Vulcanis (Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás), Gutemberg Gomes (Secretário de Estado de Meio Ambiente do Distrito Federal), Pedro Chagas (Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão), Artur Falcette (Secretário Adjunto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e Divaldo José da Costa Rezende (Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Tocantins).

A Secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, Andréa Vulcanis, ressaltou a importância de um olhar integrado sobre o bioma Cerrado e sua interdependência com outros biomas brasileiros, como a Amazônia: “Chamar atenção para o que fazemos em direção ao bioma Cerrado é um olhar que também implica em resultados que direcionam para a Amazônia. Não podemos falar de um território isolado, pois o Brasil é um continente, e é fundamental que nossas diretrizes, políticas públicas e ações sejam sérias, comprometidas e sintonizadas com as realidades subnacionais para garantir resultados de médio e longo prazo”.

O segundo painel técnico destacou-se pela participação do Dr. Sebastião Pedro da Silva Neto, Chefe-Geral da Embrapa Cerrados, do Dr. Daniel Nepstad, Diretor Executivo Global da Earth Innovation Institute, e representantes do setor produtivo como Petras Gomes de Aguiar, das Reservas Votorantim. Esta composição diversificada evidenciou a abordagem multissetorial necessária para enfrentar os desafios do bioma.

Ações concretas e resultados mensuráveis

O documento apresentado pelos entes demonstra que as iniciativas de conservação não são apenas promessas, mas ações efetivas em curso. As unidades federativas do Consórcio implementaram programas robustos de monitoramento e fiscalização ambiental, pagamento por serviços ambientais, mudança da matriz energética com investimentos em biometano e biogás, e gestão sustentável de recursos hídricos.

Essas ações resultaram na preservação de aproximadamente 50,9% da vegetação nativa do Cerrado até 2023, conforme dados do MapBiomas, demonstrando um compromisso efetivo com a conservação. As práticas agrícolas sustentáveis adotadas na região, como plantio direto, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Agricultura de Baixo Carbono (ABC), comprovam ser possível conciliar alta produtividade com proteção ambiental.

Um movimento preparatório para a COP30

A COP Cerrados 2025 representou um marco fundamental na preparação para a COP30, consolidando o bioma Cerrado como um tema central na agenda climática nacional e internacional. Durante o evento, os estados e o Distrito Federal que compõem 28% do território nacional uniram forças para fortalecer a governança, a conservação e o desenvolvimento sustentável do Cerrado, ressaltando seu papel estratégico para o Brasil e o mundo. O encontro colocou em evidência a importância de políticas públicas integradas, inovação tecnológica e cooperação entre entes federativos para enfrentar os desafios socioambientais do bioma.

Em suas palavras, o Secretário Executivo do Consórcio Brasil Central, José Eduardo Pereira Filho, sintetizou o espírito e a dimensão do evento: “A COP Cerrados é um braço essencial da COP30, onde os biomas apresentam suas pautas para nortear decisões e atrair investimentos. Este momento histórico une os estados do Brasil Central em defesa do Cerrado, um bioma estratégico global que representa um terço do país. É nesse encontro que construímos o futuro da sustentabilidade, equilibrando desenvolvimento econômico, conservação ambiental e inclusão social.”

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